Não será belo senão aquilo que sugere a existência de uma ordem ideal, supraterrestre, harmoniosa, lógica, mas que ao mesmo tempo possui -- como tara de um pecado original -- a gota de veneno, a ponta da incoerência, o grão de areia que perturba o sistema. Ou então, inversamente, será bela toda borra ou todo veneno que uma ínfima gota ideal venha iluminar. Assim, o belo, existindo tão-somente em função do que se destrói e do que sse regenera, mostrar-se-á ora como calmaria devorada pela tempestade em potencial, ora como frenesi que se ordena e tenta conter sob uma máscara impassível sua tormenta interior.
Michel Leiris,
in "Espelho de Tauromaquia"