Eu tinha tanto por dizer, mas preferi calar-me. Fechar as
portas num silêncio ensurdecedor, num grito sufocante. Cheguei a ser frio, como
se fosse civilizado. Porque o que eu tinha a dizer era inaudito. Não se poderia
escutar; se se escutasse, não seria possível compreender; e se fosse comprreendido,
não seria possível sentir. Um silêncio de abortos. Absurdo.
Não que eu não tentara. Esforcei-me, como podia. Esforcei-me
até onde aguentava. Porque se passasse desse limite, já não seria Eu. Não que
eu saiba quem sou e muito menos os meus limite: o que eu tenho é uma vaga ideia
de ambos, embora mantenha-me, na maioria do tempo, num ponto médio – porque se
o ultrapasso não posso prever as consequências. Todavia, eu tentei. Abri mão,
em partes, do meu egoísmo. Não poderia abrir mão de todo, pois aí já não seria
Eu. Não que eu não me importasse com os interesses alheios ou os desprezasse: só não poderia abrir mão dos meus, deixar de me preocupar com eles. Abri mão de
alguns, como ver os amigos com mais frequência, abri mão dos interesses econômicos,
projetos futuros que só a mim diziam respeito, leituras no tempo livre, finais de semana, excesso de álcool e até um pouco de tabaco. Sem
contar a ironia, o humor ácido (por vezes grosseiro) e o cinismo. Abri mão de
ouvir "não" para só responder "sim". Abri mão de um futuro que só me dizia respeito
para um futuro que envolvia mais alguém, para um futuro que exigia renúncias no
presente. Dispus-me; despi-me. Estava aberto à diferença, sabendo que não seria
perfeito – como a vida não é. Sabendo que haveria ranhuras e fissuras, como uma
pedra a polir (sim, nunca sairemos da “pedra lascada”). Apenas uma coisa, um
detalhe, já anunciado de forma sutil, fazia toda a diferença. Uma forma de ser
ao qual nunca me propus, jamais. Uma forma à qual eu não podia existir. Uma roupa
que eu não podia vestir: o pijama de um morto.
Não... Ela estava menos disposta ao novo do que a um
substituto para o velho. Um ideal, um ponto de referência que ninguém, a não
ser Ele, poderia alcançar. Ela queria esquecer, não descobrir. Não poderia, eu, outrar-me tanto. Senão eu não seria
Eu, mesmo que não soubesse quem fosse. Mesmo que não fosse Um; ou Nenhum; ou
Cem Mil. Todavia foi bom: morreu o resquício de romantismo que havia em mim,
aquele pueril restolho de inocência. Fico com a fantasia, o fetiche, o absurdo.
Mas que seja meu! Porque é absurdo para vocês; mas para mim, para minha vida,
minha experiência e minha his[e]stória fazem sentido, ouviram? Vocês ouviram?
De fato ouviram?
Pouco me importa...
"This is the end, my only friend, the end."
Nenhum comentário:
Postar um comentário