28 de outubro de 2009

Portugal Infinito, onze de junho de mil novecentos e quinze... Hé-lá-á-á-á-á-á-á!

Há muito tempo li esse poema de Álvaro de Campos, o heterônimo pessoano que mais gosto, tanto quanto Bernardo Soares. Escritas diferentes, mas a mesma inquietude. Minto; o ex-engenheiro é mais eufórico, inflamável se for preciso, "mete dentro as portas"; enquanto o ajudante de guarda-livros é o pacato analista das sensações, do cotidiano, da vulgaridade, da rua observada pela varanda do seu quarto na Rua dos Douradores.

Enfim: lembro-me de ter lido este poema a long time ago. Chama-se Saudação a Walt Whitman. Abaixo, duas estrofes, que assim como o verso no título, nunca fizeram tanto sentido.

Abram-me todas as portas!
Por força que hei de passar!
Minha senha? Walt Whitman!
Mas não dou senha nenhuma...
Passo sem explicações...
Se for preciso meto dentro as portas...
Sim — eu, franzino e civilizado, meto dentro as portas,
Porque neste momento não sou franzino nem civilizado,
Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há de passar por força, porque quando quero passar sou Deus!
Tirem esse lixo da minha frente!
Metam-me em gavetas essas emoções!
Daqui pra fora, políticos, literatos,
Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs,
Tudo isso é a letra que mata, não o espírito que dá a vida.
O espírito que dá a vida neste momento sou EU!

Que nenhum filho da... se me atravesse no caminho!
O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!
Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo,
E comigo, com Deus, com o sentido-eu da palavra Infinito...
Pra frente!
Meto esporas!
Sinto as esporas, sou o próprio cavalo em que monto,
Porque eu, por minha vontade de me consubstanciar com Deus,
Posso ser tudo, ou posso ser nada, ou qualquer coisa,
Conforme me der na gana... Ninguém tem nada com isso...
Loucura furiosa! Vontade de ganir, de saltar,
De urrar, zurrar, dar pulos, pinotes, gritos com o corpo,
De me cramponner às rodas dos veículos e meter por baixo,
De me meter adiante do giro do chicote que vai bater,
De ser a cadela de todos os cães e eles não bastam,
De ser o volante de todas as máquinas e a velocidade tem limite,
De ser o esmagado, o deixado, o deslocado, o acabado,
Dança comigo, Walt, lá do outro mundo, esta fúria,
Salta comigo neste batuque que esbarra com os astros,
Cai comigo sem forças no chão,
Esbarra comigo tonto nas paredes,
Parte-te e esfrangalha-te comigo
Em tudo, por tudo, à roda de tudo, sem tudo,
Raiva abstrata do corpo fazendo maelstroms na alma...


Vontade de explodir numa comunhão infinita com o mundo!
Para além...

3 comentários:

Anônimo disse...

http://www.apostos.com/wagnerebeethoven/2009/11/alberto_breccia.html#comments

Anônimo disse...

Eu aceitei as suas sugestões! E não tenho nada a dizer sobre Pessoa.
Besos, besos saudosos.

paula; disse...

Nossa. Muito tempo sem postar mesmo. Mas uma das razões de ser de um blog é efemeridade, mesmo. Acho.