2 de agosto de 2009

o progresso é pra lá, ó...


Eixo central de uma ética da necessidade, o ideal de progresso é nada mais que uma noção vazia em si mesma, que busca o novo sem novidade, procurando legitimar-se apenas por ser mais atual, logo mais válida em relação a uma história linear e ascendente. O progresso torna-se rotina. Veja-se a sociedade de consumo: há sempre coisas novas no mercado, requeridas pela própria fisiologia do sistema. A contínua renovação nada tem de “revolucionário” ou perturbador: o novo aqui é o que permite que as coisas prossigam do mesmo modo, uma atualização que permite a sobrevivência do sistema. O mesmo acontece na famigerada onda ecológica. Desenvolvimento sustentável hoje é um eufemismo para sustentabilidade do desenvolvimento. Não se ataca o cerne do problema, a ética da necessidade em que estamos inseridos. A indústria criou novas frentes de consumo, como a das sacolas de pano ou dos alimentos orgânicos ou os carros total flex. A agroindústria que produz soja para alimentar vacas chinesas está aí, firme e forte, enquanto pessoas ainda vivem em condições miseráveis e cada vez mais há mais espaço para carros do que para pessoas nas cidades, grandes e pequenas. E o Ministério do Meio Ambiente, naquela propaganda ridícula, ao invés de incentivar as pessoas a usar ônibus, metrô, andar a pé, de bicicleta ou pedir carona, pede apenas que mantenham o carro regulado!!

A economia está baseada no trabalho, que se baseia na produção, por sua vez baseada na falta. Para que as engrenagens do sistema girem é preciso faltar antes, é preciso que tudo falte; ou que se produza algo “novo” a fim de se superar o antigo, démodé, insuficiente, incompleto. Ética da necessidade, ética da superação. Teodicéia cristã da busca da salvação (a perfeição no céu), odisséia da perfectibilidade intramundana (otimização do presente), a finalidade última do progresso é criar condições pra que ele sempre seja possível no futuro. Tal qual aquelas rodinhas para ramsters. Não há fim. É apenas mais do mesmo.


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