10 de abril de 2010

Defenestre des fenêtres

Janelas,
aí estão elas


nelas

Para atirar
Por fora, no que está dentro:
intensificar ou anular
Pôr fora, o que está dentro:
expurgar e anular

Por-ra!
É pra isso que servem
as janelas?

Elas dão conta
Essas danadas
Defenestradas
Do paradoxo
Da conjuntivite

Da existência humana?

(da existência humana, meu Deus, da existência humana...)

9 de abril de 2010

Alvorada: dia e noite


Ao chegar à página 123 do livro A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX, de James Clifford, qual não foi a surpresa ao encontrar esse estranho bilhete. De ônibus, de metrô, de bonde? Intermunicipal, intramunicipal? De que ano, de que década, de que século? O telefone talvez nos dê uma pista. Mas quem teve a posse desse bilhete, o teria usufruído? Teria lido a respeito de Conrad e Malinowski? Teria lido Conrad e Malinowski? E por que estariam grifados escrita e experiência, dois temas tão caros a mim ultimamente? Aquele (ou aquela) que os grifou, qual relação teria tido com o bilhete? E com os autores? Porventura os leitores? Veio de onde, foi para onde? Conjecturas, conjecturas... nada conjuntas, incongruentes? E qual não é a singularidade da página também: 123, como o prenúncio de um evento qualquer: 1, 2, 3... e ? O trem partiu? O dia acabou? A luz apagou? A festa acabou? O povo sumiu? E agora, José?

Alvorada...

Eu passarei o mistério adiante. Na escritura da experiência; na experiência da escritura.

8 de abril de 2010

DICTIONNAIRE

HOMME:

"Un éminent chimiste anglais, le Dr. Charles Henry Maye, s´est efforcé d´etablir de façon exacte de quoi l´homme est fait et ce qu´est sa valeur chimique. Voici le résultat de ses savantes recherches:

La graisse dur corps d´un homme normalement constitué suffirait pour fabriquer 7 morceaux de savonnette. On trouve dans l´organisme assez de fer pour fabriquer un clou de grosseur moyenne et do sucre pour sucrer une tasse de café. Le phosphore donnerait 2.200 allumettes. Le magnésium fournirait de quoi prendre une photographie. Encore un peu de potasse et de soufre, mais en quantité inutilisable.

Ces différentes matières premières, évaluées aux cours actuels, représentent environs une somme de 25 francs." (Journal des Débats, 13 août 1929.)

Georges Bataille

Documents - Archeologie, Beaux-Arts, Ethnographie et Variétés, n.4. Paris, Septembre 1929, p.215.

HOMEM*:

"Um eminente químico inglês, o Dr. Charles Henry Maye, empenhou-se para estabelecer de que maneira exata o homem é fabricado e qual seu valor químico. Vejamos o resultado de sua brilhante pesquisa:

A gordura do corpo de um homem normal é suficiente para fabricar 7 barras de sabonete. Acha-se no organimso bastante ferro para fabricar um alfinete de espessura média e açúcar para adoçar uma xícara de café. O fósforo daria para 2.200 palitos. O magnésio é suficiente para tirar uma fotografia. Ainda um pouco de potássio e enxofre, mas em quantidade inutilisável.

Esses diferentes materiais de início, estimados na conjuntura atual, representam aproximadamente a soma de 25 francos [aproximadamente R$43 no câmbio atual]."(Jornal do Debate, 13 de agosto de 1929.)

Georges Bataille

Revista Documents - Arqueologia, Belas Artes, Etnologia e Variedades, n.4. Paris, Setembro, 1929, p.215.

HOMO SAPIENS SAPIENS

Peso líquido interno: 21 gramas
Preço da embalagem: R$ 43,00

Made in Eden



*Tradução minha

7 de abril de 2010

moi non plus


Um homem do futuro, eu? Apenas junto as luzes vindas do passado e as configuro como melhor me convém. Seria um homem do passado talvez. Mas isso todos somos. Seria antes um homem pré-histórico, pré-estelar. Reúno o resultado da poeira de bilhões de anos, brinco com elas. Faço brincos delas. Colares, pulseiras, telas, tapetes e grilhões. Tudo aquilo que seduz, cativa, prende e arruina. Nada mais. Apenas re-configuro todo esse lixo, todo esse pó. "Quia pulvis es et in pulverem reverteris". Stardust...Starman...?

Moi, non plus.

6 de abril de 2010

Mundo mundo... Raimundo o caralho!


Acomete-me sempre o paradoxo de querer e não fazer, não querer e fazer. Se pretendo tal modus para a minha vida, sempre sou levado a fazer o contrário. Ou isto, ou aquilo?. Faria ambos, desde que me fosse possível não escolher desde que também não fossem excludentes, é claro. Creio que o mal da vida, para além da perversão do progresso que inspira sempre uma otimização, eficiência e aproveitamento, está no pensar-excludente, assim como no agir guiado por tal pensamento. Pensar em fazer uma coisa é já uma renúncia a outra; escolher é abdicar e dessa forma ter não seria dar, sendo a possibilidade da posse condicionada por uma renúncia seguindo a lógica da escolha.....

Disciplina, eis minha constante petição. E por que nunca alcanço? Porque, no fundo...

15 - 10 - 2009