_ De onde você é?
_ Cláudio.
_ Não, eu não estou perguntando o nome do seu pai, mas de onde você vem.
_ Foi o que eu disse. Sou de Cláudio.
Qual filho de Cláudio, essa pequena cidade do centro-oeste mineiro com seus 25 mil habitantes, nunca passou por uma situação parecida? Um estranhamento quanto ao nome do antigo vilarejo, que reza a lenda foi batizado em homenagem a um escravo que descobriu um ribeirão, o “Ribeirão do Cláudio”. Pouco depois tornou-se um distrito da cidade de Oliveira, o Distrito de Aparecida do Cláudio. E agora, em 30 de Agosto de 2011, comemoraremos os 100 anos de emancipação da nossa cidade: a cidade de Cláudio.
Desde então a cidade se desenvolveu bastante, tornando-se conhecida como o maior pólo fundiário da América Latina, concentrando uma grande quantidade de indústrias metalúrgicas que são a base da economia claudiense. A cidade apresentou um grande crescimento econômico nos últimos 10 anos, com um aumento de 76% da renda per capita da população, segundo dados do último censo. Mas esse dinheiro tem sido usado para quê, a não ser comprar automóveis?
Cláudio tem uma densidade automobilística alta, mas uma carência de atividades, principalmente para a juventude. Não moro em Cláudio há cerca de sete anos, e a impressão que eu tinha era como se houvesse transporte, mas não houvesse para onde ir. Exceto se você tivesse a possibilidade de um sítio, ou de ir a Divinópolis ou Belo Horizonte, não havia muito o que fazer. Parece-me que as coisas estão mudando, e eu soube a pouco tempo atrás que já houve um avanço muito grande, com a recente construção da Casa das Artes. Todavia eu creio que se pode fazer mais, como construir um Centro Cultural de qualidade, investimento substantivo em atividades culturais, como teatro, dança, música, ou mesmo cinema e também turismo ecológico. A cidade tem potencial para tanto, tem demanda dos jovens. E tem dinheiro.
Em matéria de cultura, Cláudio não deveria ser conhecida apenas como “a cidade dos apelidos”, como tantas vezes apareceu na mídia. Há muita gente talentosa por lá. Há muita gente que tem buscado educação e cultura nas redondezas, já que a cidade não oferece. Na minha época de adolescência, o máximo que tínhamos eram os velhos “bailes” no Automóvel Clube à noite, e os velhos encontros diurnos nas piscinas do mesmo Automóvel Clube, encontros um tanto quanto restritos, pois limitados aos sócios e seus amigos. Não sei se continua assim.
A cidade apresenta muitas possibilidades, pois como eu disse, há demanda – da parte dos jovens – e há recursos – da parte dos empresários e da prefeitura. Os jovens (e também os não tão jovens, mas principalmente esses) buscam por cultura, num sentido amplo. Buscam por bons lugares para sair à noite, onde encontrem mais do que bebida. Buscam por eventos culturais, por arte, por música, por dança, por teatro. Cláudio não é só “fundição” e apelidos. Temos uma bela e antiqüíssima festa de Congado, temos belas serras e belas matas, temos gente talentosa que canta, dança, pinta e escreve. E, um caso a parte, temos muita gente que joga – e bem – xadrez, aquele jogo visto por muitos como signo de inteligência.
Seria interessante que na comemoração desse centenário a cidade desse mais oportunidade aos seus filhos, mais acesso a esses bens imateriais. Como bom mineiro, Cláudio agora tem a faca e o queijo na mão.