2 de agosto de 2011

Nº 13



Treize – j’eus un plaisir cruel de m’arreter sur ce nombre.* [Marcel Proust]

Le reploiment vierge du livre, encore, prête à un sacrifice dont saigna la tranche rouge des anciens tomes; l’introduction d’une arme, ou coupe-papier, pour établir la prise de possession.** [Stéphane Mallarmé]


I. Livros e putas podem-se levar para a cama.

II. Livros e putas entrecruzam o tempo. Dominam a noite como o dia e o dia como a noite.

III. Ao ver livros e putas ninguém diz que os dois minutos lhe são preciosos. Mas quem se deixa envolver mais de perto com eles, só então nota como têm pressa. Fazem contas, enquanto afundamos neles.

IV. Livros e putas têm entre si, desde sempre, um amor infeliz.

V. Livros e putas – cada um deles tem sua espécie de homens que vivem deles e os atormentam. Os livros, os críticos.

VI. Livros e putas em casa públicas – para estudantes.

VII. Livros e putas – raramente vê seu fim alguém que os possuiu. Costumam desaparecer antes de perecer.

VIII. Livros e putas contam tão de bom grado e tão mentirosamente como se tornaram o que são. Na verdade eles próprios muitas vezes nem o notam. Ano a fio alguém vai-se entregando a tudo “por amor” e um dia está lá como corpusbem corpóreo, na ronda das calçadas, aquilo que “para fins de estudo” sempre pairava somente acima delas.

IX. Livros e putas gostam de voltar as costas quando se expõem.

X. Livros e putas remoçam muito.

XI. Livros e putas – “Velha beata – jovem devassa”. Quantos livros não foram mal reputador, nos quais hoje a juventude deve aprender.

XII. Livros e putas trazem suas rixas diante das pessoas.

XIII. Livros e putas – notas de rodapé são para uns o que são, para as outras, notas de dinheiro na meia.

* “Treze – tive um prazer cruel em deter-me nesse número.”

** “O redobramento virgem do livro, ainda, presta-se a um sacrifício de que sangra o corte vermelho do antigos tomos; a introdução de uma arma, ou corta-papel, para estabelecer a tomada de posse.”

(Benjamin, W. Rua de mão única. São Paulo: Editora Brasiliense, 2004, p. 33-34.)

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